outro poema de meu irmao Iosif Landau: de 2007 "Poema Sem Fim Revive 13"

...e durante noite de insônia
me levanto no escuro,
bato com a testa na porta,
com o pé na cadeira,
com os dedos na parede
xingo minha sorte,
só um pouco de desconforto
sentir dor é não estar morto,
pelo corredor, mais confiante,
chego na sala,
luz de fora que vem não sei de onde
ilumina,



me jogo na poltrona,
acendo um cigarro,
ligo a TV,
passo célere por dezenas de canais,
filmes vistos e revistos,
volto e revolto,
paro, é um filme inglês,
reconheço logo,
propriedade rural,
mansão nobre,
gramado, flores, arbustos, laguinhos,
estatuas de deuses da mitologia,
Jaguar e Rolls Royce em linha,
bastões de cricket espalhados,
mesa debaixo de umbrela,
mergulho na lembrança,
viajo no passado,
a enredo do filme adivinho fácil,
romance de plebeu com nobre
a guerra leve ameaça,
emoção, melancolia, saudade,
romance de amor impossível,
há algo mais belo?
delicadeza, dialogo de inocência,
olhares de amor, encantamento,
e depois a guerra, a despedida,
juras de amor, choro,
“volta pra mim!”,
“voltarei querida!”
beijo de despedida,
lenço branco do adeus,
um ultimo olhar da janela do trem,
canhões e bombas,
mortos e feridos,
retirada sem honra na praia
no norte da França,
ele morre, não volta,
ela no bombardeio sobre Londres,
amor sem desfecho,
amor inacabado,
eles morreram,
e o amor deles?
e por que me emociono tanto?
Inglaterra 1939 ali me vejo na escola,
em setembro invasão da Polônia,
junho 1940 retirada Dunquerque,
na estação de Paddington
soldados vindo da batalha perdida,
eu numa ultima viagem pra escola,
agosto, setembro, Londres sob bombardeio,
meu romance inacabado,
abandonado na França no verão do ano passado,
onde estaria ela?
tento me lembrar de alguns detalhes,
do seu vestido, dos brincos, dos sapatos,
assim no dia do não encontro
eu poderia falar, estavas bela naquele vestido florido,
mais aquilo e mais aquilo, você tão linda,
casaquinho de bolinhas, chapéu branco,
tento me lembrar dos detalhes,
pois não me lembro mais do rosto dela,
a alma do nosso amor escondida no choro,
o silencio e as risadas sumidas nos Alpes,
o tempo que passou não tem mais vida,
a imagem de onde estávamos na despedida
em minha mente não ficou gravada,
só tristeza pelo amor perdido,
lembrar – me de detalhes eu tento,
mas não quero,
o mundo está cheio de gente arrancada dos sonhos,
ninguém para secar as lagrimas do meu rosto,
e todos vivemos escondidos e morremos
nos campos de batalha, nos hospitais,
e a terra nos engolirá, amigo e inimigo,
os seguidores da Besta, os queimados em fornos,
todos batalhando com as bocas abertas
pelo ultimo suspiro
se lembrando dos detalhes do amor perdido.