martedì 9 maggio 2017

Todo dia, a melancolia

Havia, no princípio, um verbo. Que fosse amar, talvez, pois para isso existimos. O certo é que era uma palavra. Que guardasse em si, talvez, toda a memória do mundo, pois é disso que existimos. Iosif Landau, com muita coragem, voltou ao seu começo, para escrever este livro, em que a personagem principal não é inventada, nem qualquer semelhança com a vida real é mera coincidência: é ele, Iosif Landau, um homem em estado de absoluto tumulto. Vasculhando cada pedaço de sua alma, por meio de lembranças, ele fez uma espécie de acerto de contas consigo mesmo, passou a
limpo o passado, assumiu suas alegrias, prazeres, culpas, perdas, danos e enganos. Coisa que não é para qualquer um.
Eu me pego pensando agora, que estou escrevendo o prefácio de uma vida. Um privilégio que é de poucos também. Mas não quero estender-me além da parte que me cabe. Amo o amigo, respeito o escritor e admiro a sua obra, constantemente me assustando: Iosif Landau não é de esconder mensagens nas entrelinhas. Suas palavras, tal como suas feridas e cicatrizes, são sempre
explícitas. Com sua caligrafia inconfundível — ele escreve compulsivamente — tem hora que Iosif Landau vai atropelando as palavras, desprezando indefinidos artigos e pronomes, como se estivesse atrás da palavra essencial. Em outro momento são as palavras que o atropelam, como se somente elas não bastassem. Repare, gentil leitor, este livro é cheio de cheiros, cores, imagens e
sons. É uma história de amor. Com todas as suas contradições.
Iosif Landau aprendeu que é o público quem decide a sorte da arte e do autor.
Mas escreve conforme recomendou Voltaire: "O verdadeiro pecado é escrever para o público". É possível que ele nem se dê conta disso. Página por página, o escritor e poeta reflete, com intensa melancolia, sobre questões que o atormentam e para as quais ele não encontra explicação. Judeu, nascido na Romênia, viu-se livre dos campos de concentração, vindo morar no Brasil, que ele considera o seu céu. E passou a viver o inferno de sua vida em reviravolta, tendo que conviver com a maldade que há no mundo. Outras tantas vezes foi salvo. Pela vida, pelo amor, pelos amigos, mas a maldade permaneceu no mundo. Por que estou vivo e sofro? Esta é a grande indagação de Iosif Landau, o pivô de sua melancolia. Afora a saudade do que ele não viveu. A nostalgia do que virá. Sua maior constatação, melancólica também, é a de que
existem respostas que não têm perguntas. Amanhã o sol vai nascer de novo.

Ele sabe.
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Silvana Guimarães
Belo Horizonte, 11 de maio de 2002.


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