Nascida a 5 de Dezembro de 1926, em Budapeste, passou por Portugal em fuga desordenada aos nazis e rumou ao Brasil, estabelecendo-se com a família no Rio de Janeiro. Corria o ano de 1941. A sua carreira ir-se-ia desenvolver entre o Brasil e o México. Começou por aprender cerâmica com Robert Tatin, em São Paulo, mas rapidamente começa a pintar. Conhece muita gente que era ou viria a ser importante na cena artística brasileira dos anos 50. Começam então, timidamente, as primeiras exposições.
Em 1959 a vida de Myra iria mudar radicalmente. Já divorciada de um primeiro casamento e com uma filha, conhece Miguel Salas por quem se apaixona loucamente. Segue-o para o México, onde rapidamente entra no mundo intelectual e artístico mexicano. Começa a fazer gravura. Entra quase inconscientemente na arte abstracta e leva a técnica da água-forte até à saturação. O metal era a sua matéria-prima. Utilizou ácidos puros. E foi assim, quase sem querer, que chegou à “prancha talhada”. A placa de gravação como “objecto de arte” em si mesma.
Em Fevereiro de 1963 tem a sua primeira exposição individual, na Galeria Juan Martin, a mais importante da Cidade do México. A partir daí a sua carreira está lançada. Myra entra inevitavelmente no mundo da arte de vanguarda e passa a ser um nome incontornável no novo movimento artístico sul-americano.
Em 1965 as placas de metal dão origem a uma incursão pela pintura. Uma incursão que ela queria manter reservada para si. Um incidente infeliz, porém, faz com que um dos seus quadros apareça mutilado, cortado ao meio, por um dos filhos de Miguel (o homem com quem vivia). Foi o destino. Em vez de desanimar, restaurou-lhe forças. Myra começa a pintar de forma imperativa. Obsessiva. O quadro cortado passou a chamar-se “Ritmo Partido I” e a partir daí todos os seus quadros se passaram a chamar Ritmos. Aquele foi um momento de ruptura. A sua arte mudou. Desde então, Myra vai estilizando as suas pinturas, depurando a sua arte e passa a pintar definitivamente em pastel sobre linho.
Em 1968, Myra é já uma artista consagrada. Empenha-se politicamente. Toma partido contra as ditaduras que então assolavam a América do Sul e, particularmente, no México. Integra a Associação de Artistas Livres que viria a ser conhecido como “Salão dos Independentes” de que Myra foi um dos fundadores. Os quadros de Myra transformam-se em leituras esquemáticas. Depurados a um extremo que só os mestres conseguem. São ritmos que viajam em linhas. Linhas que unem e se separam, que convergem e divergem. São o que ela chama de “linhas-viagem”. Linhas rectas imaginárias que a levam ao infinito.
Em 1969, Myra compõe “Ritmo-Homenagem a Salvador Allende”, um quadro de 4x2 metros, que enviou para o Museu da Solidariedade com o Chile. A exposição foi inaugurada em 1972 pelo próprio Allende que Myra tinha conhecido anos antes. Volta ao Brasil. Regressa de novo ao México. Acaba por se fixar em Xalapa, onde viverá os próximos 20 anos. Sempre a pintar, sempre a expor.
Em 1974 entra para a Universidade Veracruzana para dar aulas. Rapidamente entra em divergência com “sistema” e acabará a integrar o Instituto de Investigação Estética e de Criação Artística, de certa forma criado para ela ou por causa dela.
1975 foi um ano marcante. Expõe individualmente no Museu de Arte Moderna da Cidade do México e edita o livro “Si Sabes Ver”, uma edição de autor que só em 84 viria a ser assumido pela universidade, numa 2ª edição. É um livro contra-sistema, contra-corrente, anti-método. Os alunos deixaram de frequentar a universidade e passaram a ir a casa de Myra.
Entre 77 e 79 Myra volta ao Brasil, na sequência da doença do pai, que o levaria à morte. Expõe na Galeria de Arte Global, em São Paulo. Uma exposição individual que a lança mediaticamente no Brasil. Nas ruas pedem-lhe autógrafos. Conhece toda a elite modernista do Brasil.
Regressa a Xalapa em 1979. Trabalha compulsivamente. As exposições sucedem-se. A pintura aparece agora ainda mais depurada. Cada vez mais estilizada. Cada vez mais abstracta. Começa a fazer objectos, colagens, reciclagens. Entre 1980 e 2001, Myra faz cerca de 90 exposições, dentro e fora do México.
Em 1987, o Museu de Arte Moderna do México faz uma retrospectiva da obra de Myra. Foi o culminar de uma carreira que, não tendo terminado, recebe o reconhecimento geral. Foi também em 87 que a família se muda para a Europa. Em 1990 morre Pablo, o seu último grande amor e amigo de longa data. A saúde de Myra também não é a melhor.
Em 94 renuncia à Universidade e abandona o México. Passa a residir em Itália. Continua a pintar. Desenvolve uma nova técnica, feita de sobreposições e colagens. As formas deixam de caber nas molduras. Os desenhos saem das margens. São linhas que se continuam a cruzar, mas agora para fora do quadro. Myra ultrapassa o quadrado. Transcende o rectângulo. O espaço ganha um novo volume e a pintura ganha uma nova dimensão.
Em 1998, a filha de Myra parte para a China. Foi nessa altura que lhe deram um computador. Myra tinha então 72 anos. Começou a explorar a máquina e descobriu o Photoshop. Hoje Myra está em contacto com o mundo. Pinta diariamente no seu computador. Criar é o seu destino. E mesmo que a morte a leve, Myra já criou uma eternidade.
Em 2011, Myra deixou Itália e partiu para Jerusalém, onde tinha dois netos. Uma espécie de regresso às origens étnicas. Uma terra que ela não conhecia. Uma terra estranha e, simultaneamente, familiar. Myra continua a não ter pátria, a detestar vento… e continua a pintar.
8 commenti:
Myra é isto tudo e muito mais que tudo isso!
Bjnhs
ah, querida Luisa, voce leu!!! que bom...e tantos obrigadas, Jorge escreve tao bem!!! e eu fico toda contente lendo o que disse!
beijinhos
Ser feliz na memoria das coisas é também sustenrar a felicidade futura!
Bjnhs
sim, Luisa, mas eu nao tenho Ja, muito futuro.....
Isso ninguem sabe...o futuro é hoje
Mil bjs
voce e muito sabia...eu estou muito cansada , amiga...
Tenho o livro, de que gosto muito.
Beijinhos:)
ah, Isabel que bom!!!!! um gde beijo!
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