Abro o exemplar à minha frente, ao acaso:
... e me encontro no meio da bela paisagem
e você entre risos e olhares vivazes, fala
— ali do outro lado é Lausanne,
o vilarejo à esquerda é Evian,
Genebra e Vevey mais adiante, à direita,
e eu sem tirar os olhos do seu belo rosto
não ouso interromper suas palavras matutinas,
elas escorrem dos seus lábios-cereja,
caminham pelo seu delicado queixo,
pelo seu pescoço, alvo cisne,
envolvem seu corpo de menina em flor,
com a brisa vinda da Suíça,
como se penteado por alpinas águas cristalinas
e a envolve numa névoa de mágica pureza.
Não tive a intenção de fazer citações, mas elas são inevitáveis. Transcrevi o trecho acima, do poema FAZ MUITO TEMPO, num a escolha casual, apenas para que o leitor sinta o ambiente lírico da poesia de Iosif. O poeta, ao mesmo tempo em que se extasia frente ao “pescoço alvo cisne” de uma jovem, é capaz de pegar o relho e bater duro nas imperfeições da sociedade humana, como no poema DIGNIDADE. No poema SANTA, extravasa ternura, desnudando o coração num canto de amor por sua mãe.
Em todo o correr dessas páginas, mostra-se com toda alma e corpo, encantado com a vida, apesar das crises e adversidades. Não há como ler a poesia de Iosif sem reconhecê-lo nos versos e não há, também, como não nos reconhecer nos momentos de intensa e cristalina exposição de alma. Já disse outro poeta brasileiro — e aqui repito: não há poema isento. Há é o homem, com suas virtudes e defeitos, a caminhar por esta senda existencial, cheia de sombras e percalços, mas também de muita luz, de maravilhosas portadas, onde experimentamos a fruição da vida. Por mais que o poeta queira se ausentar de sua vivência, não consegue. Não é o caso de Iosif Landau, que não tenta ausentar-se do poema. Ele o incorpora e consegue transferir para o leitor todos os sentimentos vividos (ou não). A expressividade do título, EU VI, mostra claramente que o autor não deseja camuflar a alma, nem escamotear sentimentos.
Seu estilo descritivo soa bem aos nossos ouvidos, seus versos têm o ritmo do coração e nos calam fundo. Como diz o próprio poeta, o conservadorismo, o rigor e o artesanato como o de Eliot, cansaram-no. A leitura de Kerouac levou-o aos poetas “malditos”, apaixonando-se pelos seus textos, paixão consolidada pela ligação que tinham com uma das admirações do poeta, o jazz, de que é grande conhecedor. Se alguém encontrar semelhança de Iosif Landau com os poetas beat, não é mera coincidência, portanto. O motivo está evidente.
Percebe-se ainda, em seus poemas, um claro amor pela vida, em todas as suas significações e nuanças, embora lamente o envelhecimento, não porque tenha medo do curso natural da existência, mas pelas limitações que a velhice impõe ao corpo. A alma do poeta é jovem, condição claramente manifesta em sua poesia.
Escrever sobre o sentido essencial da poesia de Iosif Landau é tarefa acima de minhas forças. Apenas posso sentir — e sinto profundamente — o seu sentido. Gostaria que os leitores deixassem de lado minhas palavras e viajassem pelas páginas do livro e se embriagassem em seus versos, que falarão melhor do que quem escreve esse texto, que tem como principal galardão a felicidade de ser amigo do poeta. E amigo não fala tudo, com receio de cometer excessos. Vejam com os próprios olhos.
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Fausto Rodrigues Valle
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2 commenti:
"Pescoço alvo cisne" mostra a elegância das palavras quando de Iosif se fala!
Escrita surpreendente. Ser surpreendente!
Bjnhs doce Myra
sim, Luisa assim era e muito mais!!! obrigada e muitos muitos beijos!
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