Um Nobel da Vida
Quando alguém ganha um Nobel aos sessenta anos, eu costumo dizer que o cidadão estava velho e, por isso, ganhou. Só velhos salvo raríssimas exceções ganham o Nobel. Mas o que é velho? Eu posso ser um velho de trinta e seis anos e um senhor dos seus setenta pode ser novo. A juventude aí não está no interior e sim dentro naquela força motora que faz do individuo um ser realizador. E, se às vezes a Academia não dá um Nobel, ou não o deu a muita gente e um exemplo é Proust que, inclusive, foi rejeitado em favor de André Gide é porque muitas vezes a vida já coroou o escritor com outros louros. Ou, se não o coroou, e nem irá fazê-lo, de que importam os prêmios? O que vale mesmo é a realização que dá e o êxtase que a arte provoca em si (no criador) como potência inovadora de si mesmo. O fato de religar, revitalizar, revigorar é que dá à arte da escrita a importância que ela tem.
Renovar-se, muitas vezes, é abandonar algo que se fazia para fazer outras coisas. Ou não: renovar pode ser, simplesmente, começar. Mesmo que este começo seja aos setenta anos. O Nobel Saramago que o diga: começou aos sessenta anos e é mais cultuado do que muitos ou todos os escritores que começaram bem antes de ele ter se iniciado na Literatura.
Foi depois de aposentado, que Iosif Landau começou a escrever. E foi logo partindo para a prosa policial, algo tão particular dentro da literatura, que por ser considerada por alguns críticos metidos a besta como "literatura menor", é muito difícil de ser feita. Pois a verdade é que este gênero literário exige um repertório de vida todo particular. Não é fácil fazer um bom livro policial. Mas assim começou o romeno Landau, aos setenta
anos, com o primeiro livro, COMISSÁRIO ALFREDO, editado em 1995; o segundo, OS ANJOS TAMBÉM MORREM, em 1997 e o terceiro, ENCONTRO EM SALVADOR, em 1998. Só a partir do quarto livro é que a poesia desabrochou suas flores em ELES, EU, OUTROS (poesia) e o sexto, CONFISSÕES (poesia), em 2001. Entre os dois, ele escreveu o quinto, TUDO POR NADA, também em 2001. E em ambos os livros de poemas o escritor se revela antenado com o que de mais interessante houve em matéria de literatura neste século. Principalmente, quando se diz um amante da beat generation, o que lhe aproxima dos ídolos Ginsberg, Kerouac, Ferlinghetti, Corso, Bouroughs, Bukowsky, Jim Morrisson, Bob Dylan, William C. William, Pound e Elliot.
A poesia de Iosif reflete toda a experiência de vida que ele tem. No poema "Quando", ele escreve "Quando uma criança morre/o anjo de Deus desce do céu/(...) e Deus aplaude". E conclui: "Quando um velho morre/o anjo de Deus desce do céu/(...) e Deus chora". Esta forma diferente como Deus trata ou acolhe um velho, ou uma criança, é o reflexo de como a sociedade trata o velho e a criança. Ambos nas extremidades da existência, ambos condenados muitas vezes a depender dos outros seres próximos, para conseguir levar uma vida plena. No caso, o metafísico entra no poema como uma espécie de eu coletivo, que adora a vinda de uma criança para o céu e detesta a vinda de um velho para próximo dele. Na verdade, tal fato mostra-nos como bem uma família trata a vinda de uma criança ao mundo, com carinho e, muitas vezes, como destrata o velho que não desencarna rápido. Um poema que exige o tratamento adequado, a solidariedade e o amor, que é do que todos nós estamos carentes, mas, muito mais, o velho.
g o t a s
Não são versos,
não têm rima,
nem poesia,
nem ardentes poemas.
Que importa se são
gotas
ou
enchentes!
O poema "Gotas" bem que poderia chamar-se "Lágrima". Dentro deste poema não há poesia havendo muito mais que poesia. Há desespero atávico pela vida. Há voragem de viver. Há desamparo e uma entidade muito importante para a subsistência humana: a vontade de potência. De que importa uma lágrima? Ou seria uma enchente?
A poesia de Iosif é carregada deste patos que se chama vida. É de vontade de viver e de se superar que o poeta escreve sobre si e sobre os outros.
Ele leva adiante a máxima socrática do conhecer-se a si mesmo. Bebe também do rio heraclítico e do "Come on Baby Light my Fire". Ou seja, é pop, beat e moderno. Triplamente ungido pelas musas...
Pela lente às vezes distorcida de uma realidade aprisionada no passado e redescoberta pela lente incisiva de um ser que aprendeu muito e ainda se considera um aprendiz beat no que o termo tem de mais romântico, nostálgico e carinhoso assim é que Iosif Landau produz a sua obra: um eterno encontro com um novo dia, a cada dia, talhando o seu nome na estatueta principal que é a do Nobel da Vida.
lia elena iosif
sergio luis roberto
9 commenti:
Myra,
Tão bonito tudo o que li.
Gostei muito.
Parabéns.
Tenho estado ausente mas lembro-me muitas vezes de si e falei de si a uns jovens que conheço.
Beijinho. :))
Myra coloquei um comentário no post de 1 de Maio. Gostava que lesse.
Beijinhos.:))
qy=uerida Ana que linda surpresa voce aqui!e fico bem contente de tudo que me diz! obrigada tantisssimo, beijosss
Interessante, tudo:)
Um beijinho:)
Uma pérola que faltava no PAROLE, Myra !
E gostei de ver o Iosif tão atento e feliz no meio de amigos.
Um beijo e agradeço estes momentos.
O teu irmão era tão intenso Myra. Como você.
Beijos
sim Isabel tbem acho mais que interessante..
Joao, uma joia...sao a mulher e filhos dele...beijossssssss
Li, acho que sim...mais aindo!!!!! era um pessoa incrivelmente boa honesta e incorrnptivel a ponto de perder postos importantes mas nunca ceder a maldita corrpcao~~!!!
e beijos a voce todos
Muito interessantes todas as referências que aqui se fazem ao teu irmão, à pessoa íntegra e única que ele foi e lutadora, sempre fazendo coisas boas para o mundo que o rodeia. Um estímulo para todos nós, para nos mantermos sempre com a força dos nossos princípios.
Adorei a fotografia com a famíla, estão muito bem, já tinha visto alguns comentários de Helena por aqui e fotografias, acho que só não conhecia os dois mais velhos. Gostei de ver agora a família toda runida. Muitos beijos querida Myra.
a minha familia infelizmente esta tao longe,,,eles no Rio...eu aqui na Holanda...amo eles,,, e amo tanto o meu irmao!
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