Minha geração me viu partir para a terra do Arco-Íris.
Fugi de uma terra abençoada, rica em ouro, petróleo e trigo,
de uma cidade bela e encantada, Cidade Luz dos Bálcãs,
reinado, opereta digna de um Franz Lehar.
Fugi aos poucos, sem pressa e muita dor, fugi da enchente sangrenta,
fugi da morte, do fogo e do aço escaldante, dos novos selvagens.
Aprendi que a morte não é sono ou descanso, é lua de sangue,
e te espera de olhos bem abertos, mas os anjos dos livros sagrados,
com roupagem de seda e sininhos, me cercaram e murmuraram
no ouvido: vá! vá !vá!, teus pais te esperam, tua irmã te chama.
E abandonei minha infância, meu nascimento, meus livros,
meus retratos, meu quarto e corredores silenciosos, as bestas rindo.
Trouxe comigo meu corpo, meus dezesseis anos, a poeira das lembranças,
os lençóis brancos cobrindo corpos mutilados
e dos vivos que ainda morrerão.
Deixei para sempre os túmulos dos antepassados.
Minha geração partiu para a terra do Arco-Íris,
mas levou consigo, gravadas na alma para a eternidade,
palavras doloridas e imagens de pavor,
um pergaminho secular de morte e terror,
e viajantes como eu, colecionadores de dor e temor,
"Meu Deus, meu Deus, por quê?". Ele nunca responde,
mesmo na segunda chamada, uma eterna dúvida: meu Deus?
Talvez tudo esteja escrito em livros não compreendidos,
em dicionários com palavras desconhecidas e amaldiçoadas.
Como os exilados do Faraó, esperaremos, ajoelhados na escuridão,
escondendo nossos rostos submissos, até que a humanidade
arrependida estenda seus braços e nos chame: venham irmãos,
nos somos o mundo!
Minha geração partiu para a terra do Arco-Íris
à procura de novas ilusões e novos lares,
novas paisagens e terras macias, um Novo Mundo,
e eu tentarei atarraxar um novo rosto, de herói,
livrar-me do antigo e jogar no lixo a lâmpada queimada,
meus braços estenderei para o novo futuro.
O movimento de minha alma será o movimento das ondas
do novo mar, e meu olhar se perderá no horizonte azul,
e as mesuras de vai-e-vem das rezas são movimentos
de arrancada de um salto triplo para a nova vida.
Numa bela manhã, limpa e azul, resplandecente e luminosa,
vejo com clareza o milagre, meu neto, que me abraça rindo,
e eu visto roupas coloridas, e ouço nem perto nem longe,
vozes que cantam alegria ao som de bateria cadenciada.
Meu corpo se movimenta em harmonia com a nova alegria,
ganhei o jogo de xadrez com seus vinte e quatro quadradinhos
de desespero e vinte quatro quadradinhos de não-esperança,
estrelas brilham no meu coração, a Via Láctea bem próxima.
Hino de glória ao Deus imaginário da minha infância,
ouço o som do shofar: "as portas do paraíso se abriram".
Não beijei o solo do novo país quando desembarquei,
há sessenta anos, mas sei que me abraça,
até a ultima despedida.
Finis!
a casa que deixamos - strada Latina -Bucarest
centro de Bucarest antes da guerra
apto - 4 andar - Ed. Biarritz - Rio de Janeiro
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4 commenti:
Linda poesia e história de vida...bjs, chica
oi, Chica mto origada vce vem me ver todos os dias, voce e uma verdadeiraamga...beijosssssssssssss
Boa tarde, cada um de nós tem a sua própria historia de vida, umas mais negativas e outras mais felizes, o certo é que temos, gostei de ler a sua historia que amiga recorda.
Também fugiu da minha pagina nos últimos tempos, porque será? a historia não lhe interessa?.
Sei que não gosta dos domingos, mesmo assim desejo-lhe que passe o domingo o melhor que poder.
AG
obrigada, mas nao entendi porque disse que fugi de sua pagina nos ultimos tempos? os ultimos tempos nao estou bem, tenho 90 anos e vim a este pais, Holanda faz uns meses, e perdi muitas coisas do computer.!
abrazo
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