domenica 21 maggio 2017

Companhia Vale do Rio Doce




 Estrada tortuosa, ardilosa e minada,
mil barreiras, pulei por cima de muitas,
tropecei em algumas,
fui eliminado da refrega:
excesso de competência.


Já pensei em parar com este relato das minhas memórias, mas continuei
escrevendo-o. Com medo de esquecer um passado que na minha mente
parecia cada vez mais inverossímil, cada vez mais irreal. Angustiava-me.
Minhas lembranças, bem ou mal-escritas, minúcias intencionalmente omitidas,
estados mentais pouco elaborados, alma pouco escrutada, talvez até
historicamente imprecisas, são, inequivocadamente, verdadeiras e vividas.
A mutação de um estágio da minha vida para outro não foi imediata, embora
tenha sido radical em termos geográficos e históricos. Foram dezenove anos
de existência, de 1941 a 1960, entre o céu e o inferno, como já escrevi. A
maturidade alcançou-me tardiamente, um contra-senso, independente e
resoluto a partir dos catorze anos entrei num retrocesso. Hoje reconheço que o
invólucro da fortuna familiar, a minha credulidade na bondade, amizade,
dever filial e minha alienação do mundo verdadeiro e da complexidade da
alma humana levaram-me até um poço muito fundo. Por uma dádiva — a
quem ou a quê eu devo agradecer? —, arrastei-me até a superfície, iniciei uma
luta feroz para sobreviver. Tive que reaprender a viver, passar por processos
dolorosos de readaptação, o embate foi feroz, alguém de "lá de cima"
protegeu-me, escapei verdadeiramente de perigos que terminariam com o
curso de minha vida. O "lá de cima" abençoou-me com teimosia,
determinação, coragem e muita força, física e interior, mas não escapei das
dores da alma, dos desapontamentos, das frustrações das derrotas, das
conseqüências daquele passado "principesco". Sobrevivi. Minha mulher e
meus filhos ilesos, minha verdadeira vitória. Em termos pessoais fui derrotado
e muito ferido.
Em novembro de 1960 estava desempregado, com reserva em dinheiro
suficiente para apenas três meses. Fui à luta para arrumar emprego, batia às
portas de empresas, respondia aos anúncios e não há pior experiência que essa,
a de um pedinte de emprego. Tem-se a impressão de estar pedindo esmola.
Pelo menos era assim que eu era olhado, um terror, um vexame. Eu ia à cidade
com dinheiro contado, a passagem de ida e volta, um sanduíche no almoço,
um maço de cigarros e, o mais aborrecido, era que eu me apresentava bem
vestido, como se vivesse em plena bonança. Além de ser encarado com uma
piada, muitos me achavam um vigarista, sorriam e mostravam-me a saída. Ao
encontrar um amigo e contar a minha desgraça, ele sorriu complacente e disseme
"Landau, você é rico, nos sabemos, você quer trabalho por diletantismo".
Por ordem cronológica: abri novo escritório, um ano de projetos e
fiscalizações, em seguida, dois anos em empresa de construções elétricas; dois
anos como engenheiro da PUC (Pontifícia Universidade Católica),
construindo Biblioteca e Instituto de Física; dez anos na empreiteira número
um no ranking da engenharia pesada, em que dirigi a construção de rodovias,
linhas de transmissão de eletricidade, refinarias da Petrobrás e hidrelétricas;
um ano na Eletronorte, projetando Tucuruí; oito anos na CVRD (Companhia
Vale do Rio Doce) como superintendente da construção de Carajás; dois anos
de consultoria no projeto de Balbinas; intervalo de anos de subempregos; dois
anos como superintendente de projeto da Ferrovia Norte Sul. Não falarei de
detalhes dessa trajetória muito penosa, tive compensações maravilhosas, como
conhecer muito o Brasil, lidar com o Povo e conhecer sua verdadeira face,
além de garantir a sobrevivência da família. Ajudei bastante a construir o
Brasil Grande, com muita alegria, mas... Lidei com a desonestidade, com a
safadeza, com a inveja, injustiça, maldade, traição, fui castigado por ser
honesto, perdi amizades, fui sufocado por isso tudo, aposentei-me desiludido e
muito cansado. Mais uma vez "alguém lá de cima" socorreu-me, disse-me
"você é escritor", eu acreditei e aqui estou.
Gostaria apenas de falar de um episódio que ilustra a minha ilusão quanto ao
"certo" e a realidade do "errado". Convidado para assumir a superintendência
da construção do Projeto Carajás, pelo mérito de ser considerado, naquele
época, 1975, um dos muitos engenheiros competentes em construção, com
forte liderança, em ótimas condições físicas e mentais, cheio de energia,
exultei. Pensei: "eis a grande chance de conduzir um empreendimento de
modo correto, do jeito que tem que ser". Conhecia todas as manhas dos
empreiteiros, todos os segredos do ofício, tinha bom trânsito nas camadas
elevadas da Engenharia, podia exigir, podia realizar, sabia que não seria fácil,
expliquei meu pensamento à diretoria, deram-me apoio absoluto, mergulhei de
cabeça, formei minha equipe, afastei os imprestáveis, assumi poderoso, feliz e
satisfeito. Tentei mudar o modo de executar as concorrências, a porta de
entrada para qualquer empreendimento: o preço mais baixo não valeria e sim o
preço justo. Fui derrotado, o medo da mudança já estava enraizado nos
burocratas, os empreiteiros fizeram o jogo da ante-sala, fiquei desapontado,
mas tudo bem, tinha armas para conduzir a execução dos trabalhos. Poderosos
visitaram-me, adulando-me, querendo detalhes dos quais eu dispunha,
"segredos de estado", escutei propostas indecentes, fingi-me de morto.
Contratos foram assinados, as obras iniciadas — o preço baixo é subterfúgio
para forçar mudanças no contrato, mil situações são alegadas, sofismas e
distorções, não aceitei nada disso — meus engenheiros sofreram assédios de
propinas e promessas, alguns sucumbiram, quando descobertos foram
afastados por mim, fui ameaçado, recebi ofertas inacreditáveis, permaneci
intocável.
As coisas iam do meu jeito, de paulada em paulada, mas meu grande engano e
inocência: o poder das "irmãs" (as cinco maiores empreiteiras do Brasil) era
infinito. Transitavam pelo Poder Constituído como influentes amantes,
derrubaram minha diretoria, eu não podia ser afastado, não havia motivo que o
justificasse, minha nova chefia foi instalada, retirou meu cargo, não me
despediu, mas deixou-me sem função, peguei meu chapéu e fui embora. Os
preços contratados dobraram, o empreendimento custou os olhos da cara, fui
colocado na lista negra, as portas se fecharam e, meu Deus, como ainda tem
gente que é contra a privatização. A Companhia Vale do Rio Doce dobrou os
lucros com menos funcionários e o preço de construção das hidrelétricas caiu
pela metade, nada mais precisa ser dito. A não ser que os ladrões hoje
descobertos, nada mais são do que os poderosos daquela época e ainda têm
muitos escondidos pelo biombo da impunidade.

O Brasil é Grande e será Maior ainda!






8 commenti:

João Menéres ha detto...

Li toda a cronica de hoje, Myra.
Quanto deve ter doído a Iiosif ser honesto e competente !...

Um beijo muito amigo.

Isabel ha detto...

Andei a por em dia a leitura.
Deixei outro comentário um pouco mais atrás.

Um beijinho e um bom domingo:)

myra ha detto...

sim Joao, foi uma epoca dificil!
beijossssssssssssss

myra ha detto...

Isabel, que bom que ja esta aqui outra vez!!!! O nome Emilia, foi pqe minha mae queria me chamar Miriam, meu pai, Emanuela, e o burocrata ficou impaciente e cortou pondo Emilia, nome muito comum na Rumania!!!

chica ha detto...

Myra, imagino o quanto teu irmão sofreria se visse nosso Brasil de hoje! beijos,tudo de bom,chica

myra ha detto...

oh, sim Chica ele estaria muito muito triste pqe nao poderia fazer nada para melhorar este nosso Brasil de hoje!
um grande beijo

Li Ferreira Nhan ha detto...

Que história, que testemunho Myra!
Se teu irmão estivesse vivo hoje estaria horrorizado.

myra ha detto...

sim, Li, e tenho outros acontecimentos onde ele quasi leva bala! mas e mto comprido.. ainda nao sei se vou colocar..talvez em duas partes...
mas estes ultimos dias eu coloquei poemas curtos que eu tinha guardado...e finalmente os encontrei!!! sao mto bons! e eu morro de tantas saudades...eramos tao "gemeos" ..no pensar e sentir!